Especialistas do setor aeronáutico entenderam que o “tom agressivo” assumido pela Embraer em posicionamento sobre a iniciativa da Boeing de romper o acordo comercial pode ser o sinal de que será dado início a um duro — talvez longo — processo de litígio entre as companhias, seja pela via judicial ou arbitragem internacional. Eles destacam que a postura mais hostil da companhia brasileira, que argumenta uso de “falsas alegações” na justificativa de rescisão, foge ao padrão de comunicado que o mercado estava acostumado.
O fim do acordo, negociado desde 2017, traz novamente à Embraer o desafio de se reposicionar no mercado mundial de aeronaves comerciais de até 120 assentos em meio à maior crise vivida pelo setor por causa da pandemia.
Uma das fontes ouvidas pelo Valor, o advogado Ricardo Fenelon, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e professor de Direito Aeronáutico e Regulação, considera que a companhia brasileira ainda tem condições de vencer esse desafio sem a parceria com a Boeing. Isso será possível, segundo ele, por conta da credibilidade conquistada no mercado e sua capacidade no desenvolvimento e fabricação de aviões.
“A Embraer é uma empresa muito respeitada mundialmente, a terceira maior fabricante de aeronaves, e tem todas as condições de enfrentar esses desafios com seus produtos de ponta”, disse o ex-diretor da Anac.
Sem a Boeing, a Embraer pode contar com um novo horizonte de parcerias, opina Fenelon. “Esse rompimento com a Boeing abre caminho no médio prazo para negociações com outras empresas, por exemplo da China, que já anunciaram algumas vezes que têm interesse em expandir e competir com Boeing e Airbus”, afirmou.
Fenelon concorda que o contexto atual do mercado não pode ser desvinculado da decisão da Boeing de encerrar as negociações, quando faltava somente a aprovação do negócio por órgãos reguladores europeus. “O setor aéreo vive hoje a sua maior crise da história e os fabricantes também foram e serão muito impactados não só pelos efeitos diretos da pandemia, como atrasos na produção, mas também pela questão econômica das empresas aéreas, que devem renegociar e cancelar pedidos de novas aeronaves”.
Segundo o advogado, o setor já projeta prejuízos de US$ 300 bilhões. há um mês Empresas Com o fim do acordo bilionário, a Embraer voltará a avaliar a configuração de mercado que tinha em desfavor antes das negociações.
“O desafio da Embraer já tinha aumentado depois que a Airbus comprou o programa CSeries da Bombardier e passou a concorrer diretamente com o fabricante brasileiro, e agora passa a ser ainda maior sem a joint venture com a Boeing e no contexto de crise no setor”, afirmou o professor.
Fonte: Valor Econômico
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